Avanço do HIV no Brasil pode gerar epidemia silenciosa, alerta estudo

Um novo estudo feito na Região Metropolitana de Porto Alegre (RS) revela que a prevalência de pessoas detectadas com o HIV ultrapassou os limites da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 64%.
O número acendeu um alerta sobre o risco de uma epidemia silenciosa desta e de outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) estar se desenrolando no país. Não é novidade que as infecções por HIV no Brasil têm crescido. Os dados mais recentes publicados — com informações de 2021, 2022 e 2023 — mostram que os novos casos da doença subiram levemente.
Estes dados, no entanto, são compilados a partir da população que busca atendimento de saúde, o que pode levar à subnotificação de casos. Uma grande parcela da população pode estar com a doença se desenvolvendo de forma silenciosa em níveis ainda maiores.
No estudo divulgado pelo Hospital Moinhos de Vento, a metodologia foi outra: os pesquisadores testaram ativamente uma parcela da população para avaliar a incidência das ISTs. É o primeiro estudo de sorologia realizado em alta escala no Brasil.
No caso do HIV, a taxa de prevalência na população gaúcha foi estimada em 1,64%, acima do limite de 1% estabelecido pela OMS para apontar que a epidemia está controlada. Níveis acima deste indicam epidemia generalizada.
A pesquisa testou 8.006 pessoas. Foram confirmados 81 casos de HIV, 558 de sífilis, 26 de hepatite B e 56 de hepatite C. Embora a testagem tenha se concentrado no Rio Grande do Sul, os pesquisadores consideram os resultados um sinal de alerta nacional.
O estudo foi conduzido pela médica epidemiologista Eliana Wendland, do Hospital Moinhos de Vento. Ela destaca que a taxa alta de prevalência é um sinal de alerta para este inimigo silencioso.
“Estes dados mostram que estamos diante de uma epidemia generalizada. Quando olhamos para quem tem maior probabilidade de contrair o vírus, esse risco está mais associado a determinadas vulnerabilidades sociais. Estamos falando, por exemplo, de pessoas negras ou pardas, com menor renda e escolaridade, e que geralmente estão na faixa dos 30 aos 59 anos”, afirma.
Entre 2007 e 2024, foram notificados mais de 540 mil casos de pessoas com HIV no Brasil. A maioria (70%) dos infectados são homens.
Além do HIV, o estudo trouxe resultados sobre a sífilis, que também preocupa as autoridades de saúde. A estimativa é de que sete em cada 100 brasileiros tenham a infecção, que pode ser curada com três aplicações de penicilina benzatina. Muitas vezes, o diagnóstico não é feito a tempo, o que leva à necessidade de tratamentos ainda mais intensos.

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