Pablo Civitella fala sobre a carreira de ator e seu trabalho à frente do Projeto Culturando

Pablo Civitella nasceu em 1981, em Santo André, onde morou até aos 14 anos. Mudou-se para Tietê onde concluiu os ensinos fundamental e médio na escola Plínio Rodrigues. Foi lá que teve os primeiros contatos com o Teatro durante as aulas de artes com a professora Cida que fazia questão de montar espetáculos ao menos uma vez por ano.
Ainda durante o ensino médio, Pablo conheceu o ator Vitor Branco, que ao ministrar um curso livre de teatro na cidade, o selecionou para o elenco da comédia “0900 disquei e me estrepei” que fazia uma sátira aos serviços de namoro pelo telefone. Nessa época começou a conexão com a cidade de Porto Feliz. Mesmo com um elenco de Tietê, a estreia do espetáculo ocorreu no Tenis Clube em Porto Feliz. A partir dessa primeira oportunidade percorreu mais de 180 cidades no Estado de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Curitiba, recebendo a certificação de ator profissional. Civitella se desenvolveu nas artes, idealizou o Projeto Culturando em 2008, foi secretário de cultura em Tietê em 2011, diretor do teatro municipal e responsável pelo setor cultural em Cerquilho de 2014-2016 cuja gestão foi marcada por recorde de público por 2 anos consecutivos, além de uma excelente e inovadora organização na realização dos eventos municipais. Em 2017, a convite do então diretor Cleber Papa, Pablo trabalhou como assessor da diretoria artística no Theatro Municipal de São Paulo – principal casa de concerto e ópera do país. Atualmente se dedica como diretor executivo do Projeto Culturando, instituição cultural sem fins lucrativos vocacionada à área cultural com atuação regional. Em 2018 Civitella casou-se com a escritora porto-felicense Samanta Holtz e veio morar em Porto Feliz. Dessa união, nasceram os filhos Leonardo e Anthony.
Paralelamente à carreira cultural, Civitella mantem uma atuação na política. Concorreu pela primeira vez ao cargo de vereador nas eleições de 2004 em Tietê. Elegeu-se vereador nas eleições municipais de 2008 com 26 anos de idade, sendo um dos mais jovens vereadores eleitos da Câmara Municipal onde foi vice-presidente no ano de 2010 e atuou também como vice-presidente da Comissão de Constituição Justiça e Redação no biênio 2009-2010 e presidente da Comissão de Saúde, Educação, Cultura, Lazer e Turismo. Em 2010, concorreu ao cargo de Deputado Federal numa “dobradinha” com então deputado estadual Campos Machado, sendo o mais votado na cidade de Tietê.
Já em Porto Feliz, Pablo assumiu a presidência do PSD (Partido Social Democrático) onde articulou diretamente com o presidente nacional da sigla, Kassab, e conduziu o partido a apoiar o pré-candidato a prefeito Gerão tendo o Dr Marcelo Pacheco como pré-candidato a vice.
Acompanhe a entrevista:
O ARAUTO Você tem uma longa história na cultura. Fale mais sobre essa experiência?
PABLO Uma história que se iniciou em 2000 como ator, no teatro com o ator Vitor Branco. No início eram 15 ou 16 atores nesse grupo. E com o passar do tempo, diante do alto volume de apresentações, final de semana após final de semana, o elenco foi diminuindo, alguns atores foram ficando pra trás e eu me mantive firme lá. E aí no resultado disso foram mais de 180 cidades no estado de São Paulo se apresentando como ator. Foi daí a minha base de conhecimento para atuar na durante todos esses anos na área cultural.
O ARAUTO Sempre como ator?
PABLO No início sim, porém com uma particularidade que já sinalizava o mundo das produções (risos). Como é típico na cultura, desempenhava mais de uma função. No começo eu tinha uma pequena participação como ator, mas também era o operador de som e luz do
espetáculo. Então eu ficava ali nos bastidores fazendo a técnica e, por outro lado, decorava o texto de todos os personagens imaginando uma nova interpretação para cada um deles. Assim conforme os atores foram desistindo, eu já estava preparado para assumi-los e construir minha carreira como ator. Bom, depois de depois de dois anos, a gente já estava ali com cinco pessoas, que foi o elenco fixo que ficou por cinco, seis anos excursionando especialmente no interior do estado de São Paulo. Aprendi muito acompanhando o Vitor Branco, que é um dinossauro do teatro brasileiro. Ele foi meu grande professor do teatro. Tudo que eu conquistei e construí na área cultural foi a partir do conhecimento que adquiri vendo ele atuar e também fazendo as produções locais dos espetáculos. Ele acreditou no meu talento, sou muito grato a ele por tudo que fez por mim.
O ARAUTO Depois dessa experiência você seguiu na área da cultura?
PABLO Sim, depois de um tempo, eu montei meu próprio grupo e comecei a excursionar com o espetáculo “Nem Sempre Tudo Está Perdido”, colocando em prática tudo que tinha aprendido de produção com o Vitor Branco. Eu excursionei por cerca de 40 cidades no interior. Inclusive estive novamente aqui em Porto Feliz, dessa vez, em 2007 no teatro da escola São José.
O ARAUTO Logo depois surgiu o Culturando?
PABLO Sim. Depois de seis, sete anos com teatro, percorrendo várias cidades no Estado eu senti a necessidade de contribuir para a minha cidade, Tietê naquela ocasião. Sentia a cidade muito parada. Sem oportunidade para os artistas. Reuni um grupo de amigos, alguns da área cultural, mas tinha também economista, tinha amigo com formação em administração, em marketing e eu que naquela época estava direito, enfim, tinha um pouquinho de cada segmento ali. Mas todos apreciadores da cultura e querendo fazer algo pela cidade, então foi dali que surgiu o projeto Culturando.
O ARAUTO Foi nesta época você criou uma ligação com Porto Feliz?
PABLO Como disse, em várias ocasiões da minha vida estive conectado com Porto Feliz. Minha primeira apresentação como ator, no ano 2000, foi aqui em Porto Feliz, no Tenis Clube. Depois, voltei com outro espetáculo em 2007, na escola São José. Dez anos depois, eu conheci a escritora Samanta Holtz, me casei e vim morar aqui. Não acredito em destino, mas acredito que quando estamos sintonizados com Deus, ele nos direciona o caminho que devemos seguir. Então se hoje estou em Porto Feliz, tenho certeza que é minha missão estar aqui, me desenvolver e contribuir com essa cidade.
O ARAUTO Essa experiência como ator, político, gestor e atuação no setor privado lhe deu uma visão ampla do setor da cultura?
PABLO Sim. Eu senti na pele as dores de um artista que pretende viver da arte no interior. A falta de reconhecimento do seu oficio enquanto trabalho, a falta de oportunidade e valorização do artista local, toda a dificuldade para se conseguir patrocínios e viabilizar uma produção. Eu passei muito perrengue na minha carreira como ator. Me lembro de ter dormido na rodoviária no Rio de Janeiro em uma das minhas idas à Rede Globo, porque não tinha dinheiro para me hospedar em hotel. Eu senti na pele, vivenciei essas experiencias que me tornaram mais fortes e preparado para o setor cultural. Depois tive a oportunidade de estar do outro lado, no lado do poder público como vereador, secretario de cultura e até mesmo o setor privado tendo trabalhado no setor jurídico. Isso permitiu que hoje eu tivesse uma leitura muito interessante das necessidades do artista, especialmente do interior, quais são os limites e como o poder público executivo pode se inserir neste contexto além da atuação do setor privado. Isso me proporcionou ter uma visão ímpar dos mecanismos de atuação cultural.
O ARAUTO Você organizou um grande evento cultural em Porto Feliz no final do mês passado?
PABLO Sim. O “Vila das Artes” que nesse ano aconteceu aqui em Porto Feliz. Foi um festival de literatura aberto ao público com destaque para o concurso nacional de poemas onde recebemos 986 inscrições do Brasil inteiro. Tivemos também o concurso de poemas para estudantes, e um concurso de interpretação. Todos esses concursos fizeram parte do festival, onde conhecemos os vencedores dentro do evento que chamamos “Vila das Artes” que é o evento presencial e aconteceu aqui em Porto Feliz. Veio gente da Bahia, do Pernambuco, do Paraná, de São Paulo, de várias regiões do Brasil. Todos vieram custeados pelo Projeto Culturando. Foi também um trabalho de valorização do artista porto-felicense que teve a oportunidade de mostrar sua arte a partir das mais variadas linguagens e manifestações artísticas e culturais.
O ARAUTO Como você avalia o evento ocorrido em Porto Feliz?
PABLO O Festival de Literatura nos surpreendeu desde a primeira fase, que é o período de inscrições para os concursos. Na primeira edição em 2021 realizada em Jumirim, tivemos cerca de 550 inscritos e nesta, recebemos 986 inscrições vinda de todos os estados brasileiros. Isso elevou o concurso de poemas a um dos mais concorridos do país. Já no Vila das Artes que é o evento presencial, tínhamos grandes desafios, proporcionais ao tamanho do que sonhávamos realizar na cidade. Seria o primeiro evento oficial do Culturando em Porto Feliz, onde encontramos uma classe artística desmotivada e desprestigiada, sedenta da merecida valorização do seu trabalho. Além disso, existe uma narrativa muito forte na cidade de que “o porto-felicense não prestigia a Cultura”. Acredito que o Vila das Artes rompeu esse paradigma de uma vez por todas, com um público de mais de 2.500 pessoas que passaram para prestigiar todo tipo de arte que havia por ali. Foi um evento cultural grande, desafiador em vários sentidos, e pode ser definido na voz do público e dos artistas envolvidos, pela frase que mais ouvimos de todos eles: “era o que Porto Feliz precisava”. Somos muito gratos por ter proporcionado esse sentimento aos artistas e à população da cidade.
O ARAUTO Apesar de vários artistas de fora, muitos eram de Porto Feliz. Como você avalia o potencial artístico da cidade? Surpreendeu?
PABLO Porto Feliz é uma cidade rica em cultura, e isso eu percebi logo que me mudei para cá, em 2018. Foi um privilégio contar com mais de 110 artistas porto-felicenses no Vila das Artes, presentes em praticamente todas as linguagens artísticas do evento. Foi gratificante ver o escultor Nilson Teruel, por exemplo, esgotar seu estoque de batelões produzidos manualmente, e as pessoas se divertindo ao experimentar a arte de talhar madeira, a escritora Andreia Matos durante o lançamento do seu primeiro livro, também esgotar seu estoque, as performances do teatro Urca Show liderados pelo grande ator e diretor Causin, sem falar no ateliê do Juliano Romeu funcionando no meio da Vila, diante do público maravilhado com as telas que ele e seus alunos produziam, além de terem a chance de se experimentarem no desenho. Enfim, tantos artistas do teatro, música, dança, literatura, todos muito pontuais, profissionais e competentes ao entregar seu melhor para o público. Porto Feliz tem muito potencial artístico, mas, infelizmente, durante os últimos 8 anos foram esquecidos e deixados de lado.
O ARAUTO Muitos disseram que ficaram surpreendidos com a diversidade artística apresentada no evento. Qual a importância de promover e exaltar a diversidade artística de uma cidade?
PABLO A missão do Culturando é “promover o desenvolvimento da cultura local através de ações multiculturais de excelência que valorizem o artista e a sua arte” e nós encontramos terra fértil aqui devido a essa pluralidade de linguagens artísticas presentes em Porto Feliz. O artista não é definido pelo número de cadeiras que consegue ocupar em um auditório ou de seguidores nas redes sociais, e sim por seu ofício, pois é através dele que ajuda a eternizar o legado de uma sociedade.
As manifestações artísticas e diversidade de linguagens presentes numa cidade além de contar sua história de forma mais humanizada e democrática, abre espaço para uma ebulição de ideias que posteriormente são aprimoradas e se tornam mais criativas e inovadoras, proporcionando, consequentemente o desenvolvimento da cidade, o seu senso crítico e criativo.
O ARAUTO O evento teve um grande público durante as 12 horas. Isso demonstrou que a cidade tem um público que consome, que gosta de ações culturais. É possível numa cidade como Porto Feliz investimentos público e privado para alavancar e promover mais eventos culturais? Temos público para ações mais frequentes?
PABLO Não tenho dúvidas. Ficou claro para nós quanto a população se sentia carente de boas iniciativas culturais, e já saiu do Vila das Artes pedindo por mais. A cidade tem público, sim, um público disposto a apreciar iniciativas de qualidade. É claro que eventos como esse demandam muito tempo e recursos, por isso é importante que exista uma união das iniciativas pública e privada de modo a somar forças para promover eventos culturais com um intervalo menor de tempo entre eles. A formação de público deve ser constante e isso acontece conforme iniciativas como as do Vila acontecem regularmente.
O ARAUTO Outro diferencial foi a transmissão do evento pelas redes sociais. Além do público presente, muitos outros acompanharam a transmissão de casa, fazendo com que os artistas chegassem mais longe. Além da importância de realizar eventos culturais, promover a cultura também é fundamental. Esse diferencial ajudou? É importante essa ação?
PABLO Temos mantido como praxe, em nossas realizações, a transmissão ao vivo do evento ou de parte dele. É importante também pelo fato de manter um registro em vídeo de tudo que executamos recentemente. Em realidade, o hábito de produzir e consumir cultura no ambiente virtual potencializou muito após a pandemia, porém, além de uma simples escolha, sabemos que existe uma parcela de público que, por diversos motivos, não tem condições de estar presente em um evento como este. A transmissão é uma forma de permitir que essas pessoas tenham acesso à cultura também, além de proporcionar um alcance muito maior de público em qualquer parte do país e dar ainda mais visibilidade aos artistas. No caso do Vila das Artes, foi também uma forma dos amigos e familiares dos finalistas do Concurso Nacional de Poemas, quase todos de fora do estado de São Paulo, assistirem ao vivo à premiação e à interpretação dos poemas. Transmitimos ao vivo toda a programação artística e a cerimônia de premiação, em uma live que totalizou mais de 9 horas ininterruptas, com o desafio de mostrar tudo o que estava acontecendo simultaneamente nos diversos palcos e espaços espalhados pelo shopping, além de entrevistas feitas por nosso parceiro Paulinho Baldini, da PortandoClick.
O ARAUTO O Projeto Culturando continuará atuando na cidade? Teremos mais ações culturais na cidade?
PABLO Porto Feliz faz parte do eixo de atuação do Culturando, que é composto por outros 4 municípios na região. Nosso planejamento prevê um rodízio dessas ações entre essas cidades que integram o eixo, por exemplo: o Festival do Rock, realizado em Cerquilho em 2023, em 2025 estará em Tietê, o Culturando Encena, realizado em Porto Feliz (online) durante a pandemia seguirá para Cerquilho; o próprio Festival Culturando de Literatura, realizado em 2021 em Jumirim veio para Porto Feliz em 2024, e assim vai… Sei que muitos estão ansiosos por novos eventos na cidade e em breve teremos novidades sobre o próximo evento aqui em Porto Feliz. Vamos trabalhar para que isso ocorra o mais breve possível, lembrando sempre que o Culturando é uma instituição cultural sem fins lucrativos. Os recursos para nosso trabalho vêm a partir de colaboração, doações diretas ou de programas de incentivo como o ProAc ICMS, através do qual foi possível realizar o Vila das Artes. É importante que as empresas locais acreditem em nosso trabalho e abracem nossas ideias. Mais empresas envolvidas representam mais recursos, mais eventos e menos tempo de espera. Ficamos felizes com o sentimento positivo que deixamos em Porto Feliz, e esperamos que mais portas se abram para que possamos

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *